quinta-feira, 31 de maio de 2012

Design de Arqº e deixa andar

Neste Link encontra-se um artigo interessante e bem escrito sobre...vejam e leiam por favor:

http://p3.publico.pt/cultura/design/3231/cdc-o-design-portugues-ja-tem-uma-embaixada-em-londres


Aqui está outro texto que vem em consequência também da prévia leitura:




Design de Arqº e “deixa andar”

Não me posso deixar caír na ingenuidade de esquecer que os primeiros desenhadores de mobiliário e produtos foram marceneiros, ferreiros, artesãos, arquitectos e engenheiros que, com as respectivas origens e necessidades, deram origem a uma nova disciplina, profissão e ferramenta para a sociedade. A verdade é, também, que muitos destes são, naturalmente, dos ´designers´ mais influentes da história da disciplina. Jesus também não era Cristão, foi um Judeu que fundou o Cristianismo, tornando-se Cristão. Com um rápido crescimento industrial surge a necessidade de separar ofícios e surge o Designer de Produto ou Industrial - alguém que se começou a especializar em pensar, desenhar e criar produtos e objectos em geral. As anteriores profissões foram-se direccionando lentamente de volta às suas essências e importâncias, mantendo as naturais e necessárias ligações ao Design.
Hoje, apesar da explosão do ritmo do mundo e da diversidade de possibilidades que o mesmo oferece aos profissionais, um designer, para o ser, deve englobar diversas atitudes e (até um certo ponto) saberes profissionais, tão vastos quanto as áreas que o seu ofício de designer exigir.
Foi-me ensinado, quase em jeito de conselho, pelo meu primeiro professor de Projecto de Design, que, para projectar, "Um Designer de Produto tem de ter em si, conforme as suas necessidades, um bocadinho da cabeça de um engenhocas, um artesão, um técnico de oficinas de materiais, um ergonomista, um artista, um psicólogo, um filósofo, um engenheiro, um gestor, um industrial, um economista, um criativo, um gestor de marketing... até um utilizador!... ou não fossemos também utilizadores". Nunca me foi dito para ir exercer nenhuma destas profissões nem tentar reproduzir na íntegra aquilo que fazem. Apenas me foi pedido saber pensar e preocupar-me como todas estas facetas, para ser um Designer. A verdade é que, na altura, esta achega ajudou-me a ´vestir o fato´ e saber para onde direccionar a minha nova ´cabeça de designer´, ajudou-me a entender o que fazer e como lá chegar. Ainda hoje faz sentido e espero que assim continue. Curiosamente, naquela tão completa lista, não estava o arquitecto. Por muito natural que seja interessar-me por arquitectura, que sempre me interessou, o arquitecto não encaixa naquele puzzle que, no fim, mostra a cara de um designer vestido de super-herói.

De facto, não é totalmente descabido que um arquitecto desenhe, no seguimento de um edifício, as respectivas maçanetas, interruptores ou mobiliário urbano. É só lamentável e grave quando corre mal, porque as únicas preocupações do projecto foram embaratecer a obra e conferir uma harmonia estética no interior ou exterior do edifício – o Objecto do Arquitecto. É verdade e não surpreendente que há mais em que pensar quando se pensa e projecta um Objecto como este. Não será de todo grave um Arquitecto caprichar, seja porque não tem a mesma libertação ao desenhar um edifício, seja por paixão, curiosidade ou pela conveniência que for, nuns rabiscos que o encantam para dali tirar objectos de baixa exigência técnica ou intelectual.  Falo por exemplo, de jarras ou serviços de chá para oferecer e mais tarde, quem sabe, serem vendidos por um preço justificado pela assinatura do arquitecto. (É triste para mim, quando o mesmo acontece pela mão de um designer). Não é certamente coincidência que um designer se veja infinitamente mais limitado para fazer a trajectória inversa. Isto é, a partir do objecto, debruçar-se sob o edifício que o envolve, ao ponto de se envolver no seu projecto e desenho. Por muito interesse e entendimento que um designer tenha sobre o mundo da arquitectura, que faz bastante sentido, não fará sentido algum que vá, só por paixão, interesse financeiro ou de imagem pessoal, aventurar-se a conceber integralmente um edifício. Porque o profissionalismo não exige só paixão, dinheiro e imagem, mas exige, entre outras coisas, também capacidades técnicas e intelectuais. Valores que determinam que cada indivíduo se encaixe o mais possível a fazer aquilo em que se sente mais confortável, competente e útil que, dentro do bom senso, não estará limitado por um curso superior que passa a ser o único rótulo de um profissional . Não é saudável que alguém se limite deste modo, mas é igualmente coerente evitar andarmos a exercer as profissões para as quais não estamos preparados, por muita que seja a paixão ou necessidade económica.

Odeio sentir que estou a ensinar o básico a um cão. Pior aínda é quando, no fim da conversa toda, o cão afinal já era doutorado em ser cão.    

Hoje, tomei conhecimento, no artigo de um jornal , de uma nova empresa Portuguesa, sediada em Londres, que pretende promover e vender produtos desenhados por portugueses, e  fabricados em Portugal, num país estrangeiro. E o facto dos ocultados nomes dos designers, ter sido ofuscado pelos dois maiores nomes da Arquitectura Contemporânea Portuguesa,foi o que me levou a escrever este texto. 
Vender e promover Design Português no estrangeiro é nobre e corajoso. É uma ideia boa.
Vender e promover Design Português, vendendo como respectivos autores principais os dois nomes principais da Arquitectura Português é paupérrimo. É uma ideia de merceeiro manhoso, não de vendedor e promotor de design. Mais vergonhoso aínda porque é o Design Português mais os dois mais reconhecidos Arquitectos Portugueses. Os três a deixarem-se vender assim, não se promovem muito.  Pode ser uma boa ideia mas não é uma ideia boa. Portanto, é muito má ideia e é uma ideia errada de Design e bom negócio, honesto.
Mas o revoltante deste assunto não fica por aqui e vai mais além. É que toda a ideia parece estar bem concebida e intencionada. Acreditem que não sou pessimista nem dramático. Acreditem que não sou ressabiado nem frustrado.  Aceditem que tenho a melhor vontade, motivação e optimismo para acreditar no melhor. Acreditem da mesma forma que eu, pelo sim pelo não, acredito no melhor e acredito nesta ideia, mas fica difícil com aquele toque pacóvio dos nomes dos arquitectos.  
Mas porque é que os metem ali? Ou porque é que se metem lá? Não fizeram e fazem já o suficiente com edifícios? Não são competentes e felizes com edifícios? Se não é para aparecer é para quê? É para pensar os objectos e os produtos? Não sei. Sei que é perigoso.
Sejam dignos.
No meio de tanta Juventude e design, o que é que fazem ali (na Colour Design Concept) o ´Xor´ Souto e o ´Xor´ Vieira? Esses nomes da Arquitectura. Nunca ninguém lhes chamou designers, porque de facto não o são nem têm essa cabeça . São outra coisa e têm outra cabeça. Sejam úteis e não inúteis. Sejam colocados e assertivos, e não deslocados, impositivos e irresponsáveis. O facto de haver muito “Designer” que não o é a tentar exercer tal profissão, é um dos grandes responsáveis pela imagem desinfomada e errada que a generalidade das pessoas conservam quando confrontadas com o conceito “Design”. Seja em que contexto for, a “Design”, o subconsciente de muita gente continua ainda a associar adjectivos como: fútil, caprichoso, bonito, moderno, luxo e pretencioso. Pessoas que normalmente, com a mesma ingenuidade que pronunciam ´Désáine´ cultivam, naturalmente, a ideia de que o Design é algo secundario e dispensável. Tal situação não acontece só por falta de dinheiro para investir em design e na implementação do mesmo numa sociedade, que em geral, poderia ser mais saudável e sustentável. Por desinformação? Não pode. Por ignorância? Com certeza. Por ganância? Talvez. Uma ferramenta social que (podia) tem de ser útil e presente, porque é essa a sua natureza e função.
Enquanto o termo “Design” não for empregue com mais seriedade, responsabilidade e utilidade, teremos uma probabilidade enorme de continuar a conviver com a ignorância e o bizarre de um Design “Shemale ” - qual capricho extravagante e inútil - desajustado da sua natureza, mas que diverte e estimula os mais descompensados e extravagantemente inúteis. Não tenho nada contra a mudança de sexo. Sou heterosexual e a minha convicção é de que nunca mudarei. Do mesmo modo, creio em algo do género:  “vale tudo desde que não me chateie, nem aos outros - liberdade e respeito, ambos o mais possível”. Mas por favor, sejamos profissionais, porque senão não haveria (nem haverá) profissões e carreiras, nem felicidade. É este o grande Senão.

NOTA: Embrião de problemas.
Neste mesmo local, para não dizer “País” e ser cansativo, há uma faculdade de arquitectura onde há um curso que, até há muito pouco tempo, se chamava ´Arquitectura do Design´. Sim, Design em geral. E outro que se chamava ´Arquitectura do Design de Moda´. Cursos com algumas qualidades no seu interior. Mas, saído de uma casca suja, um fruto nunca pode sair muito limpo.
Há “neste País” alguns hábitos e atitudes que por muito pitorescos e genuinos que possam ser, noutras situações tornam-se perigosíssimos. Nomeadamente quando se fala em desenvolvimento. A mesma burocracia e ignorância que se “deixa andar” no "indiferente" nome de um curso é a mesma ferrugem que se “deixa andar” mais tarde no "indiferente" desenvolvimento de uma ferramenta que “não deixam” nem “deixa andar” uma sociedade que não “resolve-se”.  É um erro de merda!

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